sábado, 26 de fevereiro de 2011

Metamorfose



Sentiu uma picada no braço e, ainda com os olhos fechados, coça.
Sente nova picada e volta a coçar.
Mais uma.

Abre os olhos e vê o que parece ser uma formiga desaparecer debaixo dos lençóis.
Ainda deitada, afasta a roupa da cama mas nada vê.
Levanta-se.
Puxa a roupa da cama toda para trás e 
vê um mar de formigas dentro da cama onde tinha dormido toda a noite.

Um frio percorreu-lhe a espinha.

Despe-se e vê o seu corpo ao espelho...
está coberto de picadas vermelhas, 
umas maiores que outras, umas mais feias que outras.

Fica atordoada sem saber o que fazer.
Não se reconhece naquele corpo
Sabe que aquele não é o seu corpo
Quer o seu corpo de volta!
Lisinho, macio e suave...

As picadas vão deixar marcas, sabe bem disso.
A maioria vai desaparecer, mas há algumas que nunca mais sairão...
Vão lá estar a lembrá-la sempre das consequências da sua imprudência

Sente-se triste.

Há erros que se pagam caros, pensa
Tem que se adaptar ao novo corpo
Aprender a cuidar dele, 
a protegê-lo e a mimá-lo de forma diferente da que fazia até aqui,

Aprender a cuidar dele duma forma que nunca antes fizera.





A metamorfose de Narciso, Salvador Dali, 1937





2 comentários:

  1. Se fossem aranhas, era pior...

    E... E se não fossem picadas más, mas sim limpeza?... (Há peixinhos que fazem isso...)
    As formigas levam com elas o que está morto, velho, que não tem valor para outros...
    Limpam...

    Poderão ficar marcas, sim... Como lembrança de vitória.

    E no final, a pele será verdadeiramente saudável, o corpo belo, a face macia...

    :)

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  2. As marcas também são importantes, sim, sobretudo para não voltar a repetir a asneira

    ;)

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