sábado, 30 de outubro de 2010

Significado das palavras

As palavras servem para nos comunicarmos

A cada palavra atribuímos um significado

A mesma palavra pode ter significados diferentes
Na mesma língua, a mesma palavra pode variar de significado
consoante a região ou o pais

E se estivermos a falar de línguas diferentes?...
Pode, simplesmente, ter significado ligeiramente diferente
Mas, porque usados em contextos distintos
Parecem-nos totalmente fora da nossa lógica

Os palavrões são um bom exemplo disso

Um palavrão é sempre um palavrão, na nossa língua...
E se o nosso palavrão for usado noutra língua que não o considera palavrão?

Um dia destes encontrei uma palavra, que bem conheço o significado em português, 
noutra língua

Dei voltas à cabeça para perceber o que significaria naquele contexto.
E lá descobri...

Mas até lá chegar a imaginação voou
só de pensar no nosso significado, naquele sinal de trânsito...



domingo, 24 de outubro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

Bem visto... - 3


Enquanto não atravessarmos
a dor da nossa própria solidão,

continuaremos
a buscar-nos em outras metades.

Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.
Fernando Pessoa

domingo, 10 de outubro de 2010

Jantar

Há dias em que não apetece sair de casa
Há dias em que está frio, desagradável...

Nesses dias apetece-me sempre cozinhar

Entretida entre tachos e panelas 
Ao som do velhinho POP dos U2
Lá fui eu dando largas à imaginação 
Com o que havia de ingredientes 
Entre o frigorífico e a despensa...

Eis o que saiu para o menú de hoje 
E dos próximos dias, espero... :)


Creme de couve-flor com coentros

















Tortilha de batata

















Carne de vaca estufada
















...e aqui o meu pratinho composto ;)
















... o pão é de noz e foi feito por mim 



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bem visto... - 2


O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível mas uma pessoa vai andando. Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil. Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar.

(CARDOSO, Miguel Esteves, "Último Volume", Assírio & Alvim, Lisboa, 2001)


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Amadurecer

Amadurecer tem outro sabor se estivermos acompanhados



terça-feira, 5 de outubro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Bem visto... - 1

Uma mulher precisa de apenas duas coisas na vida: um vestido preto e um homem que a ame.
(Coco Chanel)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Voar





Gosto de voar


Poder sentir o vento 
Vaguear sem destino
Desfrutar da sensação de liberdade

Gosto de voar na água
Subo em direcção ao sol
Desço aos "s" a toda a velocidade
E passo rasando as ondas que rebentam

Fecho os olhos
Sinto os salpicos da água salgada 
Sinto o cheiro do mar 
Sinto a força do mar revolto

Gosto de voar
Porque sou só eu 
Porque o vento e o mar são meus companheiros
Porque o sol me aquece
Porque a lua cuida de mim

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Conversas - 1



Conversa entre a sobrinha de 6 anos e a tia (bem mais velhinha...)

-       Tia, quando é que vais à minha escola ensinar-nos a fazer uma coisa?
-       Hummm... e o que é que tu queres que eu vá ensinar?
-       Olha, podias ir lá fazer pasteis de bacalhau!
-       Pasteis de bacalhau?!?!?!
-       São tão bons os teus pasteis de bacalhau!...

(ai a minha vida!...)

-       Olha lá, o quê que a tua mãe foi lá ensinar?
-       A mamã foi ler uma história.



domingo, 5 de setembro de 2010

Memórias - 1

Tarte de ameixa

Hoje fiz uma tarte que há muito não fazia.
Por preguiça, fui comprar a massa em vez de, como devia, a ter feito em casa.
Resultado: asneira...
Porque:
1º)  Não me limitei a comprar apenas a massa...
















2ºa) A massa de compra é demasiado fina e não dá o resultado suposto.
















2ºb) Além disso, não tem o mesmo sabor.

É verdade, o recheio está delicioso!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

As mulheres, os carros e os homens

                                                    imagem retirada da internet

A filha passa por casa do pai para o ir buscar. O pai entra no carro da filha com esta ao volante. Senta-se no banco do passageiro e olha-a. Tentando dar um ar natural, pergunta:

-       Queres que leve o carro?
-       Não pai, obrigada.
-       De certeza?
-       De certeza pai.
(silêncio)
-       Porquê que não queres?
-       Porque eu estou bem, posso conduzir.
-       Eu não disse que tu estavas mal, só perguntei se querias que levasse eu o carro.
-       Eu sei que não disseste que eu estava mal, mas o carro é meu, por isso levo-o eu!
-       Eu sei que o carro é teu, não preciso que me lembres.
-       Oh... vá lá, não sejas assim! O carro é meu, eu estou bem e sei conduzir, porquê que havias tu de levar o carro?
-       Eu sei que tu sabes conduzir! Eu não estou a dizer que tu não sabes conduzir! Só perguntei se querias que fosse eu a levar o carro!
-       E eu respondi: não obrigada.
-       Pronto! Não queres, não queres! 
      
      Faz-se um silêncio sepulcral. A filha põe a chave na ignição e liga o carro. Mete a mudança para fazer marcha atrás. Sai do lugar de estacionamento e mete a primeira para sair dali.  Deve ter passado um minuto desde o fim do dialogo e ainda ela não tinha engatado a segunda quando o pai pergunta:
      
  - De certeza que não queres que leve o carro?


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Era uma vez (4/4)


                                       imagem retirada da internet

Chegado de volta à floresta de origem, tratou de arranjar um lugar onde se abrigar, ainda que temporariamente.
Depois de uns dias a digerir toda a situação resolveu procurar o velho mocho para lhe pedir uns conselhos.
O velho mocho tinha uma aparência um tanto peculiar: uns olhos escuros, olhar sério mas afável. As suas penas eram de vária tonalidades entre o branco e o castanho, com algumas nuances de preto a contornarem-lhe a cabeça.  As suas orelhas estavam sempre em posição de alerta, o que lhe conferia um aspecto quase cómico quando estava com os olhos semi-cerrados dando a ideia que estaria a meditar...
Sentia-se pouco à vontade com o ar tão sério que o mocho tinha, mas todos os animais lhe tinham dito que ele era o melhor conselheiro da floresta e por isso, ainda que intimidado, lá arriscou.

-       O que te trás por cá? -  perguntou o velho mocho sem se mexer.

O pássaro deu um salto com o susto pois pensava que o mocho estava... estava noutra dimensão!
Não sabia bem por onde começar a sua história... então será que não se nota pelo meu mau aspecto, pensou, pensei que seria óbvio!
Como se o mocho não se mexesse, o pássaro lá foi contando o que lhe aconteceu e por fim lá confessou que gostava de saber como construir um ninho à prova de toda e qualquer intempérie possível.

-       Esse ninho não existe – respondeu o mocho – tu é que tens que estar preparado para as adversidades e não esperar que um ninho te proteja daquilo para o qual não te preparaste.
-       Bom, então como me preparo para as desgraças que ainda me vão acontecer – pergunta o pássaro com olhar triste e um tanto desiludido com a resposta.
-       Eu não sei o que te vai acontecer nem se te vai acontecer mais alguma coisa, apenas disse que tens que estar preparado! E o teu grande problema é não acreditares que consegues construir outro ninho, por isso usas ninhos abandonados. Enquanto não acreditares que o teu ninho, o ninho que tu construires é tão ou melhor que os ninhos construídos por outros, não vais ter tranquilidade. Nesse dia, no dia em que acreditares que consegues,  as feridas resultantes do incêndio vão começar a sarar, tornar-se-ão menos visíveis e menos profundas até cicatrizarem. As cicatrizes não desaparecerão mas, com o tempo, aprenderás a conviver com elas e nesse dia as tuas penas voltarão a nascer.

O pássaro não respondeu ficando a pensar no que acabara de ouvir.

-       Já agora – acrescentou o mocho – por acaso sabes o significado da palavra “Fénix”?
-       Não faço a menor ideia – respondeu o pássaro sem perceber a pergunta
-       O que renasce das cinzas – disse o mocho – e tu és uma Fénix, logo, tens tudo o que é necessário para renascer.
-       Eu?! – perguntou  o pássaro atordoado com a novidade – Eu sou uma Fénix?... Eu sou assim?...

Fénix agradeceu ao mocho os conselhos dados, prometendo ter paciência, saber esperar e acima de tudo
acreditar que um dia iria sentir a mudança.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ele e Ela

Estava calor.

Ele caminhava pelo meio da vegetação.
Por breves instantes fechou os olhos e sentiu a brisa.
Sentiu a suave e delicada fragrância das flores misturada com o odor característico da terra seca.
Sentia-se em forma e apetecia-lhe companhia.
O seu corpo forte e musculado fazia sucesso no meio delas.
Sentiu-se confiante.
Olhou à sua volta e percebeu que estava só.
Por onde passava foi deixando objectos seus dando a entender que estaria por ali.

Ela chegou e percebeu que ele estava por perto.
Olhou para as peças dele e gostou do que viu.
Fechou os olhos e com elas percorreu o rosto.
Passou-as levemente pelos seus lábios entreabertos.
Um arrepio percorreu-lhe todo o corpo.
Sentiu-se excitada com o cheiro e com a suavidade que sentia.
Olhou à sua volta, procurando-o, mas sem sucesso.

Ele aproximou-se.

Olharam-se.
Ele aproximou-se mas ela com olhar de menina traquina afastou-se docemente.

Ele não lhe tirava os olhos.
Como era bela.
Olhos grandes e negros, pestanas compridas.
Olhar matreiro.
Corpo perfeito.

Ela encaminhou-se para um riacho.

Ele seguiu-a com os olhos.

Ela bebeu água.
Sentiu a água a escorrer-lhe pelos lábios, indo para o pescoço e escorrendo até ao  peito.

Ele seguiu com o olhar o percurso da água que lhe escorria.
Estava embevecido.
Suspirou...

Depois de se saciar ela afastou-se do riacho.
O seu corpo era gracioso e caminhava de forma muito sensual.
Caminhou suavemente na direcção dele.
A meio do caminho parou e olho-o nos olhos.
Fez-lhe um olhar que ele bem conhecia.

Ele aproximou-se dela com suavidade.
Sentiu todos os pêlos do seu corpo eriçados.
Gentilmente tocou-lhe e sentiu a respiração dela acelerar.

Tinha, por fim chegado, a hora.

Ele não sabia bem.
Ela sabia, pelo menos instintivamente.

A natureza não lhes perdoaria.

Em breve seriam pais de um lindo alce.



sábado, 7 de agosto de 2010

Era uma vez (3)

Acordou com a chuva. Sentiu um arrepio. Olhou à volta e viu os outros animais da floresta indiferentes à chuva. Não gostava de frio nem de chuva e aquela talvez não tivesse sido a melhor escolha mas, dadas as circunstâncias, isso era o que menos o preocupava neste momento.

Os primeiros dias custaram muito a passar. Fazia um grande esforço para se distrair e para comer. Se os esforços em se distrair ainda resultavam o mesmo não se podia dizer dos esforços para comer. Era impossível. Valia-lhe a água que ia bebendo e os frutos que conseguiam disfarçar que eram comida... quanto mais aquosos melhor. Perdeu peso. Sabia que era essencial manter o peso para que as penas voltassem a nascer, mas nem assim. A dor era mais forte que a vontade de ter penas. Pelo menos por enquanto.

Os dias foram passando e ele começou a pensar se não seria boa ideia ficar naquela floresta definitivamente. Para isso bastava que conseguisse um ninho seu numa árvore desabitada. Parecia-lhe simples e esta ideia começou a animá-lo; vida nova, floresta nova, tudo novo.
Sempre teve um desejo secreto de aventura e agora parecia-lhe o momento adequado de arriscar, afinal não tinha nada a perder... já tinha perdido tudo.
Foi procurar uma árvore nova. Não encontrou. Perguntou aos seus novos vizinhos se sabiam de alguma árvore desabitada. Havia muitas, responde um deles, mas a semana passada chegaram novos animais e ocuparam-nas... devias ter procurado mais cedo, acrescentou. Procurou e fartou-se de procurar. Sem sucesso. Procurou em florestas vizinhas e nada. Nem uma árvore havia, por mais pequena que fosse. Estavam todas ocupadas.

Percebeu que não tinha alternativa e que teria de regressar. A tristeza voltou a invadi-lo. Eu não quero ir, pensava, não quero voltar a ver tudo aquilo. E por mais esforços que fizesse para não regressar, nada surtia efeito. Tentou tudo. Sempre. Até ao dia da partida,  e quando esse dia chegou, resignado, regressou à sua floresta de origem.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Homens Modernos, precisam-se

Normalmente estou a horas indecentemente tardias a fazer o jantar. 
Quer isto dizer que frequentemente já a noite caiu e as luzes das casas estão acesas. Há gente que não tem por hábito correr cortinas ou fechar estores quando acendem a luz. 
Quer isto dizer que quem está de fora vê tudo o que se passa dentro da casa dos outros...

Da janela da minha cozinha vejo, entre outras coisas, a janela da cozinha de muita gente e quando acendem a luz ainda vejo melhor :D

Talvez por não ser comum, sempre me chamou à atenção ver, numa determinada cozinha, sempre um homem a trabalhar “como gente grande”.  Confesso que no início pensei que o homem vivia sozinho. Claro que isto soa mal, não sou de todo defensora dos papeis tradicionais familiares, mas há que reconhecer que não é comum; é que o homem, como tantos que conheço, não se limita a fazer o jantar ou a lavar a loiça ou a lavar o fogão ou a estender a roupa, ou, ou, ou.... Não, é mesmo: e, e, e,.... e eu nunca vi mais ninguém naquela cozinha dai pensar que o senhor vivia sozinho.  

Um dia destes chamou-me á atenção umas peças de roupa estendida que, não sendo invulgar, havia umas peças cor-de-rosa... 
Bom, o rosa há muito que não é exclusivo das mulheres, pensei. 
O senhor pode gostar... mas aquilo fez-me uma certa... digamos, impressão. Ainda que só o vendo ao longe, não me parecia ser propriamente o estilo dele. Uns dias depois vejo uma saia estendida entre outras peças que me pareciam femininas e pareceu-me ainda mais improvável serem dele, mas há gostos para tudo!... 

Dias mais tarde confirmo a suspeita: enquanto o senhor esfregava o fogão com um vigor invejável, uma senhora varre o chão da varanda da cozinha enquanto fuma um cigarro.

Onde é que ela o foi buscar?...



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cântico Negro

Ora aqui está um poema que me assenta que nem uma luva: 

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio

domingo, 1 de agosto de 2010

Era uma vez (2)

Ao sentir uma picada abre os olhos e vê um bichinho minúsculo a saltitar em cima da sua asa nua. Dá-lhe uma sapatada mas não o apanha; o bichinho desapareceu no meio do ninho.  Levanta-se para ver se o encontra. Assim que se levanta tem uma visão assustadora: o seu ninho está cheio de parasitas!!!

Abriu os olhos, olhou à sua volta e lembrou-se que a sua gaiola tinha sido queimada no dia anterior. Tinha passado a noite num ninho abandonado. Que estranho sonho, pensou, ainda por cima não costumo lembrar-me dos sonhos...
Deambulou à volta do ninho e concluiu que não tinha capacidade de tomar nenhuma decisão. Era tudo demasiado recente e ainda estava muito atordoado. Tentando racionalizar as emoções, concluiu que o melhor era afastar-se por uns tempos.

Chegou à nova floresta ao final do dia. Apesar da viagem ter sido longa, não sentiu a fome nem o cansaço. Era verão e o sol ainda espreitava no horizonte. Sempre gostou muito de ver o sol, mas hoje, este sol tinha um sabor diferente: ainda que continuasse a sentir o seu calor, sabia a melancolia, a incerteza, a insegurança. Com os olhos postos no horizonte, questionava-se. Continuava a questionar-se sobre os últimos acontecimentos e não conseguia ter nenhuma resposta.
A noite caiu e as estrelas apareceram no céu; também elas hoje tinham um sabor diferente.  Mesmo sabendo do risco de voar durante a noite numa floresta, ignorou esse perigo; tinha de voar um pouco mais, voar até não aguentar mais e cair de cansaço num qualquer ninho sem dono. E voou, voou, voou... e quando já não podia mais deixou-se cair e adormeceu.

sábado, 31 de julho de 2010

Era uma vez (1)

Era uma vez um pássaro que vivia numa gaiola. O pássaro sentia-se muito feliz, tinha uma gaiola dourada, muito bem adornada e com florinhas nas esquinas. A gaiola não era redonda e por isso, as flores nas esquinas serviam também para o pássaro não se magoar.
A gaiola deste pássaro era diferente de todas as outras gaiolas; além de grande e bonita tinha uma porta que estava sempre aberta... 
O pássaro sentia-se feliz, muito feliz. Como era linda a sua gaiola! Que sorte ter encontrado uma gaiola assim! Ele era tão feliz que nem precisava sair da sua gaiola. Nunca quis sair, sempre se sentiu tão feliz que não acreditava que conseguisse ser mais feliz lá fora do  que o que era na sua gaiola.
E por isso nunca saiu da gaiola.
Era de facto uma gaiola grande, forte e robusta e o pássaro acreditava que tempestade alguma a destruiria.
Um dia houve um incêndio, a gaiola ficou destruída e o pássaro foi queimado, foi devorado pelas chamas. Devo estar morto, pensou, olhando para si e á sua volta e percebendo que o que outrora foi a sua linda gaiola, estava agora reduzido a um monte de cinzas, que ele ficara sem penas e que não reconhecia o sítio onde estava.
Para ele, tudo era novo. Não reconhecia nada, não se reconhecia, não sabia quem era. Quem é esta criatura sem penas?, pensava para si. Este não sou eu... não pode ser! Deve haver um engano! Isto é um pesadelo!  Em breve vou acordar e perceber que estou dentro da minha linda gaiolinha dourada! Não! Vou fechar os olhos com muita força e isto vai passar! Isto vai passar! Isto não aconteceu! Não pode ser! 
Mas podia, e o pássaro depressa percebeu que não era engano, que não estava a ter um pesadelo, que a sua gaiola tinha mesmo sido destruída pelas chamas e que não tinha penas para se proteger.
Nunca tinha saído da gaiola, por isso não conhecia o mundo e  o mundo não o conhecia a ele.
Estava só e sem casa.
Sentiu-se triste.  
Chegou a desejar ter sido, também ele, consumido pelas chamas. Teria sido preferível, pensou, era menos doloroso.
Questionou-se. Olhou para trás, para a vida que tinha vivido, tentando perceber o que significava tudo isto.
Não faz sentido, pensava, isto tem que ter uma explicação...
Com muita cautela começou a caminhar devagar pelo meio dos escombros. Sentia-se atordoado. Estava confuso, não sabia o que fazer e que caminho tomar para sair dali, sabia apenas que tinha de se afastar rapidamente pois a qualquer momento podia haver uma derrocada. 
Titubeantemente foi-se afastando, tentava não olhar para trás, mas cada vez que ouvia um barulhinho lá se voltava ele na esperança de ver a gaiola de pé. E tantos barulhinhos ouviu e tantas vezes voltou a cabeça para trás que desistiu, percebeu que aquela gaiola estava mesmo destruída.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mais Nada para Fazer?

Sempre fui uma pessoa discreta e sossegada. Até aqui tudo bem, certo? Errado! Os meus vizinhos não compreendem isso. Não sabem nada da minha vida e isso faz-lhes muuuuuita confusão, de tal modo que vasculham a minha caixa do correio(!), para ver se descobrem alguma coisa sobre mim, talvez... Eu confesso que não entendo. Que mal tem eu ser sossegada e não incomodar os outros? Eles acham estranho.
Eu também acho estranho que os outros consigam fazer tanto barulho e não é por isso que lhes vasculho a caixa de correio. Eu também não entendo como porquê que muita gente não toma banho ou não põe roupa a lavar com regularidade, e não lhes mexo na caixa de correio... 
Enfim, calculo que deva ser mesmo das pessoas não terem mais nada para fazer... coitadas, não conseguem encontrar rumo na vida e ocupam-se com coisas que não são da conta delas. 
Ás vezes sou tolerante, outras não tenho paciência. Eu bem tento desaparecer... arranjar emprego fora daqui, ir para o meio do mato - pelo menos aí não ouvia os vizinhos a fazer banzé até ás 3h da manhã ou a vizinha a andar de saltos altos em casa...
Um dia destes vou ter uma conversa com o Criador, pode ser que Ele me deixe ir para o campo viver...

segunda-feira, 29 de março de 2010

viver uma vida

Há dias em que não tenho paciência para viver uma vida que não é a minha. E ontem foi um deles. Que diabo! Eu sei que esta não é a minha vida, então porque tenho que a viver? Quando chega a minha vida? Estou farta de fazer estas perguntas ao universo e tenho sempre a mesma resposta: está quase... bolas, mas este está quase, está quase há uma data de meses! Deve ser um teste á minha paciência, claro eu que tenho pouca... Isto de viver uma vida que não é nossa não é nada fácil, bem que os outros podem dizer que compreendem, que imaginam... mentira! ninguém faz ideia do que isto é, do martírio e da angústia que vivemos todos os dias porque não sabemos onde e como estaremos amanhã. Não meus amigos... só quem passa por elas. Toda a gente me diz: "tu és forte, tu aguentas", bom e daí, pergunto? Aguento até um dia, como todos e então, lá por aguentar quer dizer que vou carregar esta cruz até quando?... Apetecia-me desaparecer daqui, ir para outro país, correr vários países para ter várias experiências, apetecia-me ser como a minha amiga... voa quando quer, o tempo que quer e pousa onde quer.

sábado, 27 de março de 2010

Primavera

A primavera já chegou. É sinónimo de renascimento, novo ciclo, nova vida. É isso que ansiosamente espero para também mim. Procuro novo emprego, nova casa, nova vida. A vida não tem sido fácil até aqui mas tenho encontrado umas poucas boas pessoas que me ajudaram e orientaram para eu não perder o norte.  Lá diz o ditado: quando Deus fecha uma porta abre sempre uma janela... e Ele não me abandonou.

sexta-feira, 26 de março de 2010

de volta

Por fim parece que consegui o mínimo para sobreviver: internet!
Vou propor o acesso livre á internet como um dos Direitos Fundamentais a incluir na Carta dos Direitos Humanos...