segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Era uma vez (4/4)


                                       imagem retirada da internet

Chegado de volta à floresta de origem, tratou de arranjar um lugar onde se abrigar, ainda que temporariamente.
Depois de uns dias a digerir toda a situação resolveu procurar o velho mocho para lhe pedir uns conselhos.
O velho mocho tinha uma aparência um tanto peculiar: uns olhos escuros, olhar sério mas afável. As suas penas eram de vária tonalidades entre o branco e o castanho, com algumas nuances de preto a contornarem-lhe a cabeça.  As suas orelhas estavam sempre em posição de alerta, o que lhe conferia um aspecto quase cómico quando estava com os olhos semi-cerrados dando a ideia que estaria a meditar...
Sentia-se pouco à vontade com o ar tão sério que o mocho tinha, mas todos os animais lhe tinham dito que ele era o melhor conselheiro da floresta e por isso, ainda que intimidado, lá arriscou.

-       O que te trás por cá? -  perguntou o velho mocho sem se mexer.

O pássaro deu um salto com o susto pois pensava que o mocho estava... estava noutra dimensão!
Não sabia bem por onde começar a sua história... então será que não se nota pelo meu mau aspecto, pensou, pensei que seria óbvio!
Como se o mocho não se mexesse, o pássaro lá foi contando o que lhe aconteceu e por fim lá confessou que gostava de saber como construir um ninho à prova de toda e qualquer intempérie possível.

-       Esse ninho não existe – respondeu o mocho – tu é que tens que estar preparado para as adversidades e não esperar que um ninho te proteja daquilo para o qual não te preparaste.
-       Bom, então como me preparo para as desgraças que ainda me vão acontecer – pergunta o pássaro com olhar triste e um tanto desiludido com a resposta.
-       Eu não sei o que te vai acontecer nem se te vai acontecer mais alguma coisa, apenas disse que tens que estar preparado! E o teu grande problema é não acreditares que consegues construir outro ninho, por isso usas ninhos abandonados. Enquanto não acreditares que o teu ninho, o ninho que tu construires é tão ou melhor que os ninhos construídos por outros, não vais ter tranquilidade. Nesse dia, no dia em que acreditares que consegues,  as feridas resultantes do incêndio vão começar a sarar, tornar-se-ão menos visíveis e menos profundas até cicatrizarem. As cicatrizes não desaparecerão mas, com o tempo, aprenderás a conviver com elas e nesse dia as tuas penas voltarão a nascer.

O pássaro não respondeu ficando a pensar no que acabara de ouvir.

-       Já agora – acrescentou o mocho – por acaso sabes o significado da palavra “Fénix”?
-       Não faço a menor ideia – respondeu o pássaro sem perceber a pergunta
-       O que renasce das cinzas – disse o mocho – e tu és uma Fénix, logo, tens tudo o que é necessário para renascer.
-       Eu?! – perguntou  o pássaro atordoado com a novidade – Eu sou uma Fénix?... Eu sou assim?...

Fénix agradeceu ao mocho os conselhos dados, prometendo ter paciência, saber esperar e acima de tudo
acreditar que um dia iria sentir a mudança.

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